O seu perfume chegava até mim muito facilmente, sua ansiedade gritava naquele silêncio. Fomos interrompidos com a música que tocava na rádio. Raul, nosso perfeito Raul, a nossa música de amor...
Aquele carro parecia muito pequeno para nós dois, eu queria dizer o quanto aquela música era especial para mim, e ele queria me dizer qualquer coisa que não fosse sobre o trabalho ou a escola.
Antes de ligar o carro, ele se virou e me encarou de um jeito estranho, seus olhos quase se confundiam com o escuro que ali estávamos, mas eu sabia perfeitamente que eram castanhos, como poderia me esquecer ? Mas ali, naquele momento, eram negros como a noite que nos rodeava.
Imaginei se ele também analisava a cor dos meus olhos, como ele definia: castanhos, verdes...
Mas não houve muito tempo, formou-se lágrimas pesadas em seus olhos, ele segurava com força cada uma que ameaçava cair. Sei que ele não estava tentando definir qual era a cor, e sim pensando em qualquer outra coisa que o deixava naquele estado.
Apavorei ao pensar que eu o tinha feito algo, dito algo infeliz, mas não lembro de nenhum argumento desse tipo. Há muito tempo eu já o tratava com um carinho diferente dos outros que eu tinha certeza que não o tratei mal em nenhum momento.
Eu aguardava pacientemente qualquer explicação, ele desviou seus olhos tão lentamente que pude perceber todos os cantos do carro que ele fitava. Ameaçou virar a chave e partir dali, mas eu segurei sua mão forçando-o a olhar para mim, enxuguei uma lágrima que escorreu pela sua face com a ponta do meu dedo enquanto sustentava um sorriso acolhedor em meu rosto.
- Vai ficar tudo bem!
Seus olhos brilharam ao ouvir essas palavras que saíram inconscientemente da minha boca. Eu nem sabia o porquê daquilo, ele tinha anos a mais do que eu, era ele quem devia me dizer essas coisas, ele que devia me acalmar em qualquer momento de sofrimento.... Mas naquele momento essas idades não faziam o menor sentido. Sabia que ele já vinha sofrendo com a perda há muito tempo...
Mas só naquele instante ele me confiou totalmente seus sentimentos, compartilhando suas dores com alguém que já passou pelo mesmo...
segunda-feira, 28 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
SOLIDÃO E FRIO...
Parecia até um sonho quando ele me encarou na fila do café, eu sabia que ele não frequentava aquele lugar, nem ao menos sabia da existência daquilo, até naquela manhã... Confesso que não era um dos melhores cafés da cidade, mas aquele cenário das mesas com toalhas velhas e a madeira desbotada me passava a impressão de que eu fazia parte de um filme americano, com aquelas garçonetes que tiveram seus amores perdidos e sonham acordadas com um príncipe que entraria , pediria um café e um casamento...
Eu não tinha dormido muito bem na noite passada, minhas olheiras pareciam uma maquiagem mal feita para um filme de terror, meu cabelo desgrenhado estava solto debaixo do meu chapéu que foi presente de natal, minhas roupas estavam bem à vontade sobre meu corpo magro. Sem batom. Sem nada. Apenas eu.
- Oi!
Idiota. Depois de tanto tempo sem me ver, a única palavra que tinha para dizer era oi. Sorri forçadamente, um pouco decepcionada, é claro. Não podia cair na tentação daqueles olhos castanhos me fitando com aquele brilho matutino. Seus lábios não estavam completamente fechados, sabia que tinha mais alguma coisa para sair de lá: alguma pergunta, algum elogio, alguma observação...
Não pude me conter e passei os olhos pelo seu corpo quase dez centímetros mais alto do que o meu, ele usava seu suéter preferido e a mesma calça que usou quando tivemos nosso último beijo no verão passado. Seus pés estavam quase nus em cima daquele chinelo que comprou de algum vendedor ambulante.
Neste gesto, ele tentou esconder um sorrisinho malicioso no canto da boca, ele tinha compreendido que eu ainda o desejava tanto quanto no último dia que nos deliciamos sobre a brisa quente do último dia de verão. Dei as costas torcendo para que ele puxasse meu braço e dissesse que não queria mais partir a cada conflito, a cada discussão... Mas era isso que a gente fazia, o tempo todo...
Mas desde a última vez o tempo não colaborou com a gente. Ele não puxou meu braço, não disse mais nada... Partiu, outra vez...
Eu não tinha dormido muito bem na noite passada, minhas olheiras pareciam uma maquiagem mal feita para um filme de terror, meu cabelo desgrenhado estava solto debaixo do meu chapéu que foi presente de natal, minhas roupas estavam bem à vontade sobre meu corpo magro. Sem batom. Sem nada. Apenas eu.
- Oi!
Idiota. Depois de tanto tempo sem me ver, a única palavra que tinha para dizer era oi. Sorri forçadamente, um pouco decepcionada, é claro. Não podia cair na tentação daqueles olhos castanhos me fitando com aquele brilho matutino. Seus lábios não estavam completamente fechados, sabia que tinha mais alguma coisa para sair de lá: alguma pergunta, algum elogio, alguma observação...
Não pude me conter e passei os olhos pelo seu corpo quase dez centímetros mais alto do que o meu, ele usava seu suéter preferido e a mesma calça que usou quando tivemos nosso último beijo no verão passado. Seus pés estavam quase nus em cima daquele chinelo que comprou de algum vendedor ambulante.
Neste gesto, ele tentou esconder um sorrisinho malicioso no canto da boca, ele tinha compreendido que eu ainda o desejava tanto quanto no último dia que nos deliciamos sobre a brisa quente do último dia de verão. Dei as costas torcendo para que ele puxasse meu braço e dissesse que não queria mais partir a cada conflito, a cada discussão... Mas era isso que a gente fazia, o tempo todo...
Mas desde a última vez o tempo não colaborou com a gente. Ele não puxou meu braço, não disse mais nada... Partiu, outra vez...
terça-feira, 1 de julho de 2014
FOTOS
De frente com uma tela de um computador qualquer, ao som de Raul, passo por umas fotos que estão registradas as lembranças de um dia que já foi um presente. Mas um presente que perdi há muito tempo, tudo congelado... As pessoas, as coisas, os lugares, estão congelados para sempre naquelas imagens, mas já era... para sempre...
Tento me lembrar de como era a sensação de quando a foto foi tirada, nas coisas que tinha na cabeça, das minhas ideias naquele exato momento de que foi preso aquele pedaço de vida.
Faço um esforço e tento lembrar o que fiz após aquele momento, pra onde fui, com quem, etc.
Me pergunto se eu era feliz , quais as coisas que me preocupavam, quem eu queria do meu lado futuramente... As respostas não se batem com as coisas que quero hoje em dia. O que aconteceu?
A música acaba, desligo o computador e me deito. Será que o que eu pensava antes de dormir coincide com o que penso agora? Certamente eu não me perguntava isso antes de fechar os olhos e esperar alguma coisa acontecer na minha vida para superar tudo o que aconteceu...
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